terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Introdução


❝ Tudo começou com um sim. Uma molécula disse sim para outra molécula e assim nasceu a vida [...] ❞ Procuro seguir o propósito desse trecho tirado de um dos meus livros favoritos para tudo — e quando digo tudo, quero dizer tudo. Não me permito dizer um “não” se o assunto é irrelevante, e tampouco venho a desistir de algo. Afinal, eu sou Curt Crodwe, socialmente inepto, mas ainda acredito que consigo. Tento ser otimista quanto a tudo isso, quanto as minhas notas, quanto ao meu futuro, e até quanto aquela garota bronzeada e de batom vermelho na convenção da revista de quadrinhos K-B3, ainda que ela não me dera seu nome, mas sim o telefone; e, bom, isto já era um grande avanço. Os meus pais não costumam ligar para os meus eventuais protestos, até porque eu tenho apenas quatorze anos, mas eu sei que o que defendo merece ser defendido. Como o Holden Collins e Trevor Laurier, os meus melhores amigos — mesmo que eles não costumem ter convicção sobre, bom, nada. 
Voltando ao assunto da garota da convenção, ela era demasiadamente magra como as modelos que eventualmente passavam no canal 9. Ah, e usava roupas exuberantes — uma saia justíssima preta que se estendia até o joelho, e um top igualmente preto, mas de resto ela usava cores vivas como o rosa, e seus cabelos castanhos caíam nos ombros, os olhos cor de âmbar eram hipnóticos. Era simpática, mas não sorriu, nem gentilmente. Ela era mais alta do que eu, e usava batom vermelho, acho que eu já disse isso. E ela era bonita. Não demasiadamente linda a ponto de gritarem indecências na rua e de ser o centro das atenções — apenas sua roupa era chamativa —, mas ela era bonita. Deveria ter uns quinze, dezesseis anos, mais ou menos. E quando saiu, no diminutivo, ela se despediu. “Tchauzinho”, ela disse, e toda a Nova Orleans pareceu estremer quando ela disse isso. Ou era só eu, tanto faz.